Poetisa nasceu na estação das
flores e muito nova se mudou para a Terra da Poesia Furada na Rua 29. Casa das
boas lembranças. Não gostava muito de falar, aprendeu a ler e a escrever
primeiro que a maioria das crianças de sua idade. Seu pai costumava chama-la de
florzinha do campo. Gosto de dizer que você nunca irá entender a alma de uma
poetisa, muito menos a própria que escreve e como é mesmo que ela costuma
chamar seus textos? Ah, sim, de gritos silenciosos. Quem os ouve o faz com o
coração.
A Poetisa me contou que o seu
desejo é ter suas palavras cortando o vento, navegando por oceanos, escapando
da alma e desaguando em
lágrimas. Ser o que se escreve e escrever o que se é.
Não demorou muito tempo para
que os demais começassem a perceber o quanto ela era diferente. Seu dom a
tornou solitária. E por favor, não se engane esta não é uma história triste, ao
contrário. Hoje vou lhe mostrar o que se faz com uma caneta, papel e um telhado
de estrelas. Poetisa encontrou a essência do poder que domina os escritores e
ao mesmo tempo os tornam escravos do que os mantêm eternos. Sozinha vagou pela
Terra da Poesia furada. Chorou um rio, logo depois fez nascer flores raras que
só brotavam com o adubo do mistério. Afinal, tudo o que é desconhecido se torna
raro e tudo que é raro vem do mistério. Pouco se sabe sobre a beleza destas
flores. Saber não é algo absoluto na Poesia furada.
Decidida a encontrar habitantes
nesta Terra pouco conhecida de Poetisa virou vagante, no bolso algumas moedas e
no caderno boas lembranças. Sua casa cabia em qualquer lugar. Sem querer
esbarrou no Andarilho, na época muito mais novo do que hoje aparentar ser.
Talvez fosse à ignorância que o tornava um tolo ingênuo. O que não chega a ser
um defeito. O que você não conhece e não vê não pode lhe fazer mal enquanto se
enfrenta sem medo por desconhecer do que realmente se trata. Nossa Poetisa não
pode entender a tranquilidade do Andarilho que rodava o mundo com Pandora.
Pandora e seus misteriosos
dons. Logo de cara a Poetisa percebeu que seria ela a detentora do cinismo
amoroso da misteriosa raça de Ninfas que vivam no Vale da Poesia Furada. A
princesa. Futura rainha do Vale dos desejos carnais.
Era chegada à hora da Poetisa escolher.
Desfazendo-se da razão
enferrujada de sua fé ela não conseguiu pensar duas vezes. Andarilho seria dono
do Café furado da cidade. Seu dever era unir os mais diversos seres perdidos,
fadados a sentir demais o que a maioria se nega, as criaturas imersas em
palavras que carregavam seus próprios corações em caixinhas de vidros. Os magos
da semente da felicidade, embora, estejam hoje perdidos e sem memória foram
separados e exilados da Poesia Furada após uma guerra em que o mundo baniu o
planeta dos poetas para outra dimensão.
Não foi difícil entender que
além de dono do Café furado o Andarilho teria que voltar para a Terra e vagar
em busca do Trovador, Marshmallow, Homem-cinza, Rock-Maestro e de Pandora.
Desta ultima a busca seria maior do que os olhos podem ver, apesar de
desconhecer o poder de tal criatura Andarilho já tinha encontrado a pobre
garota. Vagantes vadios, felizes andavam juntos pouco mais ao norte. No Pomar
da Fundação Raízes rasas. Ambos não faziam a menor idéia do porque encontraram
no outro um porto qualquer.
A missão do Andarilho e da Poetisa era trazer
de volta o coração da Pandora que havia sido levado devido o dever irrevogável
de abrir a caixa aos homens. Mas isso é assunto pra outra história.
Poetisa estava finalmente em paz. Era chegada à hora
de voltar para a Rua 29 e lhes mostrar o que a casa das boas lembranças guardava
para os dois. Tudo estava calmo. Tudo duraria por pouco tempo.
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