sábado, 31 de agosto de 2013

Fuga #1

Criado em 16 de Julho de 2013
(Tracey Emin, She Kept Crying, 2012)

   Eu não tenho um livro publicado, não sou ex-atriz pornô aposentada que está lançando algo no ramo da literatura, não tenho um pseudônimo no face e não faço poemas em guardanapo. Na verdade, nem faço musicas bonitinhas como a cantora engraçadinha namoradinha do Gregório.  As palavras gostam de brincar dentro de mim ou de se vingar (fica a critério do ponto de vista de cada um). Fato. Elas têm vida própria e conversam entre si sem pedir minha opinião, passeiam pelo meu corpo e sussurram versos de saudade. Meu joelho às vezes balbucia certa fala manjada de que sente falta das suas mãos sobre ele. Quando isso me aconteceu pela primeira vez, pensei em estar enlouquecendo. Era desespero, supunha. Não estava tão equivocado em relação às suposições. Veja só que curioso, meu queixo às vezes coçava. Uma fricção nervosa na qual as palavras raspavam e arranhavam-no até formar frases que na vida eu jamais as diria. Era algo parecido sobre saudade da sua boca tremendo, meio nervosa, tentando acertar a intensidade com a qual repousaria seus lábios ali. Jamais diria isso. Ah, e eu não disse, mesmo. Então, essas palavrinhas sempre davam um jeito de se vingar, de querer sair. E a maneira encontrada não foi lá uma das mais ortodoxias. Não aceitaram o julgamento e a condenação de estarem trancafiadas em regime perpétuo dentro de mim. 
   Eu sou o caçador perseguido pela caça. Vejo-me assim e sou visto assim por elas. Maldosas. Hoje elas batem em mim. Elas são o Ryu e eu o Sagat. Fazem uso do Shoryuken no meu peito. Juro vingança. Mas não fui criada para ganhar da minha melhor criação. As palavras. A cada dia elas se tornam mais poderosas e hoje escorrem pelos meus dedos, estas agradecidas por virarem o jogo e de me deixar sozinha de vez com a sombra da culpa. Essa sim, mesmo condenada não me abandona. Mas antes, bem antes da solução e da escapada, outro dia elas fizeram um motim. Isso mesmo. Danadas. Pediram ajuda as canções e tumultuaram minha sanidade. Ofereceram-me até um cigarro antes do golpe final. Padeci quando me vi chegar onde meus pés silenciaram uma caminhada rumo ao nosso canto. Ponto de fuga. Onde a vontade de se ver desaguava. Ali, logo ali, onde teus lábios absolviam meus pecados. Você era paz. O céu era testemunha e as luzes artificiais abaixo de nossos pés faziam vista grossa e nos davam cobertura distraindo quem quisesse subir. Completamente desarmada deixei que escapassem poéticas e quentes pelo meu rosto.  Salgadas e livres. Eu, o caçador, condenado. Por isso eu não tenho uma coluna em revista teen, por isso não sou escritor. Não sou detentor das palavras, elas me detêm, sou o refém guiado pelo tempo, tempo carcereiro, tempo que não tem relógio e se atrasou na hora de contribuir para a fuga da minha melhor criação. Me fez pagar a pena dobrada por talvez perder a hora e as palavras erradas, que quando são ditas disparam feito uma 44 automática no peito da mocinha da história matando o que há de bom nela pelo caçador. 

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