Acho que no teu coração eu sou o Vasco nos campeonatos. O cara que se esquece de jogar na loteria o seu
bilhete e perde aquela bolada, o cara que largou numa corrida olímpica e por
meio milésimo de segundo é ultrapassado na linha de chegada ou talvez eu seja aquele
concurseiro que disputa uma das 10 vagas e fica em 11º. Essas pessoas quase
chegaram lá. Eu quase cheguei lá. Estávamos perto, estava perto de te amar, pertinho. Como naquele dia em que eu te esperei e você se atrasou, a
chuva torrencial veio e eu fui embora. Você poderia ter se apaixonado por mim
se tivesse me visto no meu aniversário. Eu poderia ter me apaixonado por você em
Maio passado se eu tivesse lhe adicionado no meu facebook e não aquela outra
lá. Se eu tivesse uns anos a menos ou você uns 3 a mais pelo menos, mas é que a
vida não funciona assim e você amarrou teu burro em um tronco torto, meio
quebrado, já ocupado por outro burrinho no meio da chuva em um terreno baldio e
foi difícil por demais tira-lo de lá depois do nó cego que você deu. (Ufa, que
explicação longa, quase morri sem ar) E eu? Coitado de mim, sempre reinventando
histórias no porão de casa e me esquecendo de apagar a luz, trancá-lo e sair
pra viver alguma coisa de verdade a qual eu pudesse contar. Quer saber, quando
é assim o que a gente faz? Faz de conta que nada fez ou faz de conta que fez e
não foi o suficiente? Acho que fica mais legal se fingirmos que era uma vez um
nunca mais que nunca aconteceu.
Pausa.
Acho que minha explicação ficou
mais para um trava língua do que esclarecedor, mas você há de convir que você
tumultua e bagunça a cabeça da gente. Por isso às vezes eu pego um café e um
cigarro escondido, dou play naquela música que você adora e brinco de
reinventar você pra mim. Desse jeitinho mesmo, guria, igual naquele trecho de
música: eu te reinventei só pro meu prazer. Faço isso sempre quando quero
imaginar que se nada de tudo isso tivesse realmente acontecido poderíamos ter
sido um nós a sós. Estaríamos enfeitando um domingo, poderia ser um sábado
também, vendo aquele filme na minha colcha vermelha e ainda haveria aquele
débito de 2229 beijos. Reinvento você me calando com uns beijos maliciosos no
meu pescoço toda vez que eu inventasse falar coisas do meu trabalho, uns
relatórios e uns testes e... Eu vou e acabo perdendo a fala. Quase escuto sua
voz no meu ouvido dizendo baixinho que assim era melhor, e que essas coisas de
informática são chatas. Confesso que parece quase real a melhor memória que eu
inventei sobre nós. Mas essa eu não vou contar, perderíamos a excitação do
mistério, já que parte de você é silêncio e a outra é mistério. E fica assim,
um monte de versões suas, nem todas elas melhoradas, porque o melhor mesmo foi
ter esbarrado com você num dias desses. Duvido que essas memórias inventadas
pudessem ser tão bonitas se eu por azar tivesse esbarrado em outra pessoa. Tudo
na vida tem uma monte de caminhos e desvios e decisões e eu não precisei
aprender isso com a informática pra saber.
Eu sei que eu quase cheguei lá,
teria sido diferente se por você eu tivesse me apaixonado e vice-versa, eu
tenho certeza. Se naquele dia a palavra certa tivesse sido proferida, se teu
burro não fosse tão burro e se aquela música não fosse de outra pessoa, poderia
ser minha pra você lembrar-se de mim. Vou deixar essas bobagens de lado, pra lá
das laranjeiras, essas coisas bobas que a nossa mente mente pra gente. Vou me
dar por satisfeito por não ter estragado a única coisa que temos pra hoje.
(imagem retirada do tumblr.com)
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