segunda-feira, 11 de junho de 2012

insights


Daí eu pego o ônibus para a faculdade propositalmente mais cedo. e tenho aqueles insights que só acontecem lá dentro, a rotina se transformou em ritual. Fora o fato de nunca me acostumar com os mesmos estranhos olhando indiscretamente para todos os passageiros passando na roleta. Há aqueles discretos. Olham de relance. Ou nem te olham. Passo pela roleta. Alívio. Sento no primeiro lugar vago que avisto e agora já posso me sentir invisível de novo.
E cá estou eu vendo as árvores passarem, pessoas com suas pressas e atrasos, o caminhão do vovô com galinhas em plena EPTG e umas senhoras chatas ao meu lado. Curso de crochê de graça em algum lugar? E o papinho sobre sexo? Elas querem que eu acredite na vida sexualmente ativa de uma coroa divorciada? E se eu sorrir porque me lembrei da lixeira queimando há um tempo perdido no tempo sou tida como estranha. Louca. Não cheguem perto dela. Esta menina sorriu sozinha. Ninguém tem motivos para sorrir em um ônibus lotado com meia dúzias de senhoras falando sobre sexualidade e um cobrador suado as 7h da manhã dando em cima de uma mulher casada (vi a aliança).
Vou deixar claro a minha indignação, é dentro daquela lata de sardinha enorme que ensaio um discurso de como a minha vida anda melhor sem você, sem suas loucuras, a frescura de nunca assistir meu seriado favorito, trocar de canal e me obrigar a ver qualquer porcaria que não seja da minha vontade, seus sumiços. O final alternativo para Julieta e sua estupidez. Enquanto paro nos sinais mais chatos da minha cidade gosto de dirigir curtas sobre um violinista e a multidão na estação de metrô. Dos desencontros da vida. Descubro a solução para os impostos absurdos do nosso país. E já perto de descer não posso deixar de imaginar o lançamento do meu melhor livro. Quiçá único, de uma série de contos ou de muitos outros que ainda estão por vir. Todas as histórias contadas por uma passageira de ônibus e sua total falta de habilidade para esquecer um amor que nunca lhe pertenceu.
E quando eu desço meus longos insights seguem viagem sem sua dona. E dão voltas e voltas pela cidade. Perco de vista. Já não são meus.

2 comentários:

  1. Torna-se um tarefa complicada comentar seus textos, eu que sou de tantos clichês, tenho até receio de elogiar algo tão bonito com palavras piegas, tudo é tão lindo, a forma como minha cabeça automaticamente me faz sentar na cadeira do ônibus e imaginar tudo, as conversar, as personagens, é mesmo fantástico. :)

    www.eraoutravez.blogspot.com

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  2. Gostei desse teu canto,
    da maneira do teu palavreado.
    Bom demais ler esses escritos e poder imaginar.

    Flores.

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