sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Com amor.


   Quando eu era criança adorava ouvir as conversas dos adultos, meu pai costumava me dar uma encarada afim de que eu caísse em si e discretamente fosse para o meu quarto e brincasse com as inúmeras barbies. Mas eu nunca queria ir, eu admirava muito o meu pai, a sua postura de homem sério e a maneira como ele parecia saber de tudo. Eu desejava saber também, ser igual a ele e logo “adultecer”. Quando fiz 5 anos de tanto pedir ganhei uma jaqueta preta igualzinha a dele. Minha alegria era quando fazia frio e íamos à padaria. Pai e filha.

    Nas suas folgas era um homem muito calado. Cansado. Afundado em suas introspecções, entretanto ainda tinha tempo para jogar vídeo game com a minha mãe e eu, me ensinar defesa pessoal e talvez a melhor das brincadeiras: deixar desenhar nas suas costas árvores, flores e o que viesse na minha cabeça.

   Me desculpe, pai, por ter largado os livros e cálculos de matemática e trocado por papel e caneta. Ter “adultecido” e causado problemas adultos e tingido de cinza a imagem da sua garotinha primogênita. Por ter sido a causa do teu silêncio. Acontece que eu cresci e passei a sonhar meus próprios sonhos. Quando comecei a andar sozinha e muitas vezes a desenhar meu rumo o qual um dia você não quis pra mim. Não se preocupe, pai, eu ainda sou aquela que você ensinou a andar de bicicleta e que quando adoecia o chamava para protegê-la. Fiz minhas lições de casa e aprendi a ser uma mulher com inúmeros defeitos e qualidades. Cometo erros às vezes, mas não por amar as pessoas que eu amo isso simplesmente aconteceu. Não me culpe por ser mortal. Não se culpe, papai, milhões de cores, sentimentos, sorrisos e lágrimas tangem meu ser. O teu ser, pai. Um pedacinho seu que saiu para conhecer o mundo. Desculpe-me, mas eu sou muito mais do que o seu molde quis permitir. Trate de não tentar entender o que também não entendo. Apenas me ame como eu te amo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...