quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

a procura do limbo

(imagem retirada da pagina Brasileiríssimos do facebook)

Eu não vou pegar o retorno porque você preferiu passar quando o sinal estava amarelo, eu te avisei, não sei quando, mas eu te avisei, guria, um dia eu iria estragar tudo, você ia dizer que não quer me ver nunca mais e faria exatamente o que está fazendo agora. Avançando no sinal amarelo. Correndo. Cantando pneu. Pouco se importando com os pardais. Acho que com tanta fuga de si e dos outros, espera sei lá, cair no Limbo pra não ter que sentir nada nunca mais. Sabe o que é Limbo, criança?
Como se eu pudesse te julgar, eu faria qualquer coisa pelo ópio. Não sei o que se passa na tua cabecinha, mas a minha lateja sem solução. Como se eu já tivesse tentado de tudo e de tudo parece que nada tenha tentado. Complexo, complexo, criança. Acho que você não entenderia. Quem é que entende alguma coisa nesta vida?
Eu não quero chegar à parte em que eu falo: 'como se você tivesse 15 anos' (porque você tem.) Na maioria das vezes dizia isso na intenção de lhe aborrecer e pra você conseguir enxergar além do que se vê. Suas atitudes tão ponderadas, teus silêncios longos e pesados, seu abraço acolhedor, sua discrição como se você fizesse parte da CIA e do FBI e ninguém pudesse saber nada além do fato que você existe por ai. Teu mistério de menina é encantador. Poxa vida, meu Deus, que garota da sua idade é assim?
É por essas e outras que eu quis comprar tuas dores, embalar e a envia-las para o Limbo, mas cadê você? Francamente, acho que me tornei uma de suas dores, então você deve estar me enviando junto com as outras. Ou será que é você que está indo para o Limbo e me deixando aqui com as tuas dores? Ou me deixou e foi com elas? Não sei, juro que não sei. Complexo, criança.
E sabe por que? Porque eu não tenho ópio para fumar, mastigar, nada. Eu só tenho alguns cigarros amassados na bolsa e um monte de coisa na cabeça. Se eu fizer o que amo, magoarei aqueles que me amam, se eu fizer o que aqueles que me amam querem, não vou amar o que faço. Tanto 'que' nesta vida minha e você se parece só com mais um por que dela agora. 
Cá estou eu, na minha mesa, com meu café do lado, alguns documentos para elaborar, funcionalidades de algum sistema para avaliar, validar... Ah, o que estou falando? Vocês não entendem nada disso, não é mesmo? Não sei se gosto do que faço ou se amo a obrigação de ter que faze-lo. Porque é o que me mantem viva, a elegância da obrigação está no que eu visto, naquilo que trabalho, mas esta vida, esta rotina, nem sei se foi aquilo que escolhi pra mim, eu queria estar vendendo algum livro de contos, queria apresentar algumas peças com a garota de dreads e filmar aquela porra do curta do meu amigo que não sai nunca, mas, criança, cá estou eu, de terninho, scarpam, aquelas coisas que gente adulta usa e aquela velha maquiagem que adultera meus poucos anos. Sim, porque eu sou nova demais pra tudo isso e velha demais pra ficar em casa reclamando do ócio.
De certa forma eu queria estar aqui também. Não sei se já falei, mas eu ainda amo parecer responsável, a peça de algum quebra-cabeça que forma algo muito maior do que eu sou. Tá vendo, criança? Sou pura ironia, ou eu será que eu sou um paradoxo mutante? De tanto não me entender, fiz algo sem explicação. Não tive a intenção, eu juro. Não vou dizer que antes as minhas intenções eram as melhores, porque delas o inferno está cheio. E não é pra lá que eu vou, eu quero ir para o Limbo com você, se me deixar te acompanhar. Eu to cansada daqui, de ter que provar coisas para todo tipo de gente, gente da familia, da faculdade, do emprego, gente que não tem nada a ver com a minha vida, gente que eu amo e que não é capaz de me amar de volta porque eu não sou feito um sonho lindo. E quem neste mundo é feito um sonho?  Me parece que agora vivo no pesadelo, no peso de ser assim, isso que não tem nome, eu sem nome assim. Mas se eu fugir de tudo, no fim vou fugir de você também. Complexo, criança, complexo.
Agora eu to olhando pela janela, o céu tá cinza, dias cinzas são bonitos, aquele cinza da tua camiseta, aquela que eu te dei, do carinha do cd que você gravou pra mim. Pra que você se fizesse mais presente poderia estar tocando muito além do sofá, porque se estivesse, na parte da Caroline não seria a voz dela que eu estaria escutando seria a sua como quando a gente cantava no telefone e eu descia 4 andares pra cantar pra você no celular no meio do estacionamento. E agora as lembranças são como cachoeiras, porque você sabe, as lanchas são como carros, esteban é como se fosse você em melodia e verso, e eu sou... Eu sou qualquer coisa confusa. Complexo, criança.
Por não saber ser outra coisa, sou eu mesma, e o meu eu feriu você, desculpa. Eu não queria me misturar com eles, porque eles não são você. São todos iguais. Entende e vê? 
Sim, você compreende, nadei contra a maré pra te encontrar na tua ilha, lembra? E agora eu só sinto falta do seu porto. Da minha amiga. Do mistério que é você. É por isso que você deveria voltar. Eu sei, criança, é complexo. Mas sabe como é, eu não vou gostar nada nada de ficar sabendo por ai que você anda meio high & dry porque alguém não soube desvendar teu silêncio, porque você precisa muito de espaço e distancia segura. Eu não vou gostar se souber por ai. E voltando a realidade, eu ainda to aqui, o céu se abriu enquanto escrevia pra você, criança, que nunca vai ler, eu não rimei de propósito, desculpa por isso também.

2 comentários:

  1. Sempre que leio algo seu me sinto sendo sugada para dentro da história como se fosse minha e até tento me perguntar, por que não senti isto antes? Por que não vivi isso por ai? Eu queria ter escrito estas palavras exatamente como estão, e isso me faz um bem enorme. Sua escrita me fascina, é realmente muito boa.

    www.eraoutravezamor.blogspot.com

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