sábado, 27 de outubro de 2012

Epílogo

 Lembra aqueles dias que nunca vão se apagar?”

(foto retirada do weHeart it)
Você prefere com ou sem picles? Disse.
-Oras, sem. Suspirou olhando o cardápio da lanchonete, recostou sua cabeça sobre o ombro ligeiramente menor que o seu e de súbito deixou que sua mão escorregasse até os dedos da mão de quem a acompanhava. Ela havia surpreendido com tal atitude, o que de momento fora o mais próximo do que já estiveram antes. Ali, na fila da lanchonete. Pensariam que fosse um casal em um destes encontros no shopping? Não, não há nada para pensar. Era um gesto terno, nada mais.
Talvez a pessoa que a estivesse acompanhando tivesse sentido um leve incomodo e logo se livrou das mãos da moça e sacudiu um pouco os ombros, e tentando fazer parecer que foi sem querer indicou uma mesa próxima as escadas as quais davam acesso ao térreo.
-Aqui ou lá em cima?
-O que tem lá?
-Tem a gente, o céu, uns guardinhas chatos e meu lugar favorito, ou será que você se esqueceu de que me deve uma história a ser contada?
-Ah sim, devo. Ainda constrangida pela interrupção do carinho, recostou-se sob o balcão e pediu por ketchup, sorriu pra quem lhe acompanhava e subiram.
Sentaram-se em uma dessas muretinhas no térreo, seus olhos se encontram e logo ela lhe sorriu e emudeceram-se. O silencio pairou, um daqueles momentos indefinidos, entre a eternidade de alguns segundos e as certezas que logo despencam sobre seus corpos jovens, no ardor da idade.
-Você tem os olhos mais meigos e gentis que já vi na vida.
Meio sem jeito ela lhe sorri novamente, revira os olhos, sentiu o rosto corar. Agradece o elogio, então, vira-se para bandeja e pega seu sanduíche. Creio que o silencio pesou por alguns minutos enquanto comiam e de algum modo não estava mais incomodada com a falta do que lhe falar, podia jurar que sentia um acréscimo de estima por si ao perceber que ainda era observada. Era um olhar terno, denso feito cimento, e ainda sim, doce.
Afastou logo a ideia de uma possível atração, oras, não havia de ser nada além da amizade, talvez aquela pessoa estivesse esperando uma explicação, a história que ela prometeu contar. Pacientemente era observada com ternura, neste mundinho, o simples fato de alguém dedicar-lhe alguns minutos a fazia parecer importante. Quem sabe até compreendida. Compreensão era tudo que desejava.
-Então... Ela juntou forças para começar a falar, mas logo parou. Sua mão havia sido tocada e agora ela que se sentiu surpreendida.
-Não entendo.
-Não entende o que?
-Ué, você aqui, esperando que eu lhe conte algo, você já não conhece a história?
-Claro que conheço, mas não posso saber por você? Sua visão?
Olhou mais uma vez suas mãos juntas. Seu corpo enrijeceu-se. Só pode ser incomodo por esse gesto, ora, ela não esperava que lhe fosse oferecido tanto carinho e atenção de alguém que até algumas semanas atrás parecia não ser capaz de entendê-la. Era isso, incomodo pela ação inesperada. Suspirou, e enquanto contava tudo, olhava para o céu, azul, azul, limpo, o céu de Brasília. Quando deu por si já estava com a cabeça em seu ombro, forçando para não chorar.
E agora? Pensou. Sentiu-se nua. Com a alma despida, uma vez que lhe havia confessado tudo. Não entendeu o porquê, mas lá estavam. Agora o jogo estava totalmente exposto.
-Agora é sua vez. Recobrou-se do pesar que sentira ao confessar à aquela pessoa, o que para si, era o maior de todos os sentimentos que já foi capaz de sentir antes por alguém. O amor é igual um cento de tijolo, pesado. Era assim que sentia o peito. Pesado. Duro. Não se sentia capaz de suportar carrega-lo por mais tempo. E confessar o seu lado da história, por mais infantil que aquilo parecia para ela, dizer a alguém o que tinha dentro do peito, em busca de compreensão, mesmo que lhe dissessem: vai passar, sabendo que não iria tão cedo, talvez a ajudasse de alguma forma.
Minha vez de que, guria?
Ela agora, mais animada, livrou-se do ombro amigo, virou, fitaram-se de frente. Cruzou as pernas, apertou os olhos e os lábios tentando parecer séria, mas só a fez parecer mais meiga e gentil.
-É a sua vez de contar alguma coisa, sobre aquela garota... Foi interrompida abruptamente.
-Não tenho nada pra contar, já contei tudo, ela é linda, e da última vez que nos falamos seus olhos estavam em chamas de tanta fúria, folhas em chamas. E não posso te contar algo que também não compreendo, ela existe, está por ai. E...
-E o que?
-E eu não sinto algo assim desde que Pandora foi embora, foi amar alguém e me deixou aqui, pra cuidar do que nunca tivemos.
Meio surpresa, não soube o que dizer.
-Não precisa falar nada, Pandora me deu alguém para o meu amor amar, já passou. Meu problema é a garota com olhos de águas vindas de outros oceanos.
-Ali, do Skank.
Sorriram e terminaram por cantar essa música até a hora de cada um pegar o caminho de volta para casa, cada qual com seu amor perdido. Mas de alguma maneira ninguém ali seria o mesmo com o outro, a cumplicidade os uniu. Porque todo mundo é parecido quando sente dor. Acho que ouvi essa frase em alguma música do Frejat.
E já que eles não podem ter, ficam imaginando.
Ps: Nos próximos dias trarei uma sequência de 12 narrativas embaladas pelo CD do Esteban, eu sei que muita gente vai esperar que eu faça uma fanfiction sobre a história dele com a Sophia, mas o que pretendo fazer é falar sobre pessoas, encontros que de alguma maneira carregam certas músicas como sua trilha sonora. Não quero falar de amor, uma vez que nunca o vi falar sobre mim. E por se tratar de um epílogo não terá música.
 




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