quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Antes de ir embora, diga ao menos adeus...

 Texto postado originalmente no blog  As cartas que não mando por Márcia Thiara.


Eu deveria fumar um cigarro, foi a primeira coisa que pensei quando recebi noticias suas. E como sempre elas não eram as que eu esperava. Na verdade, nunca soube o que esperar quando o assunto era você. Não depois que nos separarmos.

Fumo meu terceiro cigarro sem culpa, escondido num beco vagabundo enquanto olho as pessoas a minha volta andando apressadas na sua hora do almoço. Minha mãe havia ligado perguntando se eu queria biscoito Passatempo, pois ela iria fazer compras. Disse que preferia Trakinas. Ela não entendeu minha piada.

Sabe, fumando esse cigarro na hora do almoço enquanto eu deveria estar trocando olhares com os novatos da empresa eu só penso numa coisa: você. Talvez tenha começado esse vício porque você fumava, ou apenas não achei algo mais barato na banca para me distrair. Mas no fundo, não faz diferença.

Jogo a fumaça para o alto pensando em quantas vezes passei a noite pensando que você voltaria a minha casa pra buscar suas coisas. Pra terminar o que um dia começamos. Poderia chover muito e eu teria que tirar sua roupa e te aquecer, ou podeira estar fazendo um sol tão grande que engoliria minha visão e meus sentimentos. Puxa, você poderia ter tirado aquela hora de folga na quarta pra buscar suas coisas lá em casa. Saberia muito bem que minha mãe não estaria lá e que qualquer coisa você pulava o muro do quintal para o beco vazio como fizemos muitas vezes para nos ver.

Sinto saudades disso. De pular o muro, de brigar com você por fumar e de ter você ao meu lado. Mas agora não tenho certeza. Outro dia me vi telefonando para a fiscalização sanitária denunciando o muro atrás da minha casa, quando percebi o que estava fazendo desliguei o telefone e deixei que o constrangimento me cercasse. Estava mesmo tentando te esquecer.

Volto para o escritório com um sorriso amarelo não por causa do cigarro, mas lembrando que vou ter que tirar algumas moedas do meu cofre para a tatuagem para apagar os vestígios do cheiro de fumaça e cigarro. Gastei bem mais tentando te apagar da minha vida.

Há tão pouco ali, tanto no cofre como no espaço que era seu que me pego perguntando se terei mesmo coragem de fazer essa tatuagem ou de esvaziar o lugar que era seu e preencher com outra coisa. Comprei mais um livro que não vou ler tão cedo, um CD que não iria comprar mas que não paro de ouvir. Tornei-me uma controvérsia tão grande que não sei quem sou mais.

Meus amigos falam que eu mudei, levei um murro outro dia por querer aproveitar a vida. Levaria dois da minha mãe por ter pulado a merda daquele muro pra te ver andando de skate novamente na rua de baixo. E no final das contas, fico nesse impasse de te ligar e dizer tudo o que sinto.

Não direi que te amo, pode ficar magoada com isso. Mas nesse momento, meu ego está maior que minhas lágrimas. Não é culpa sua, se não terminou como eu queria. E sabe como eu queria que tivesse terminado? Não, não é com você em meus braços, mas talvez com um simples e singelo adeus.

Você deveria ter saído da minha vida, nisso todos concordam, mas deveria ter dito adeus. Não até logo como ficou pairando desde que trocou a ultima sms comigo e sumiu desde então, me evitando por motivos tão infantis que me vejo num relacionamento com uma criança de 17 anos, com maturidade de 9. Decepcionante. Sabe o que doí? Além desse não 'adeus'? A minha sinceridade, e o que deveria ter sido nossa sinceridade.

Começamos como? Sabendo que não poderia dar nada? Uma experiencia por curiosidade? Ou apenas para ocupar nosso tempo. Numa troca saliente de sms ou conversas pelo Face, numa jogatina de palavras dúbias. Agora não sei. Mas havia a sinceridade de saber que não iria para a frente, e que seriamos sinceros com o fim.

Agora me escondo no arquivo desse emprego estupido que arrumei para poder ocupar minha mente, para meus pais me deixarem em paz, para ter dinheiro e para esquecer você de vez. Quatro motivos banais e nenhum deles parece me animar nessas manhãs de Agosto frio onde tenho que ir trabalhar.

Engraçado que em Agosto passado eu brigava por você, bêbado num mercado qualquer, meses depois eu me encantava pro uma outra você na rua ou na porta da escola. Nunca saberei a diferença. E você (duplicada ou não) não me disse adeus.Custava muito? Acho que não.

Custava ter batido na minha porta decidida ou envergonhada, com pressa ou sem medo de entrar e sentar no sofá. Você pediria suas coisa de volta, talvez eu tivesse separado algumas, outras você exigiria em levar contigo, umas não seriam nem minhas nem suas e no fim riríamos por não sabermos mais o que é meu e o que é seu. Ficaria aquele constrangimento no ar, interrompido pela minha mãe que entraria com dois copos de café e pão de queijo afirmando ser hora do lanche, embora no fundo tivesse apenas medo de nos ver atracados na cama dela.

Acho que o adeus doeria em você, por alguns desses motivos. Talvez você ainda achasse que eu era a única salvação que você tinha nessa vida de descobertas sem fim, ou eu seria apenas a pessoa do ombro amigo que te colocaria no colo enquanto pensava em outra pessoa. Não sei. Juro que não sei...

Mas enquanto sacolejo dentro de um ônibus lotado pronto pra voltar pra casa, percebo que o adeus doeria mais em mim. Amargaria meu café por semanas que pareceriam sem fim, me faria brigar com meus pais, largar a igreja, questionar a minha sanidade, a fidelidade dos meus amigos e me faria querer fazer a mala para bem longe de você. Custava dizer adeus? Claro que custava. Custava tanto que até agora você não disse...

Desço na parada de casa, passo na padaria e compro um Trident para apagar os vestígios de cigarro na minha boca. Quanto custa uma borracha? Cinquenta centavos? Não sei. Meu novo vício custa alguns minutos roubados na hora do almoço, os cuidados para não deixar cheiro na roupa, a acelerada no coração caso minha mãe descubra que fumo. Não sei de muita coisa, e das poucas que sei apenas digo que você ter dito adeus doeria bem menos, custaria bem menos.

Mesmo assim, não custa nada tentar. Apago o pitoco de cigarro, querendo apagar essa sempre velha historia.

Ps para a autora do texto: Confesso que demorei um pouco para digerir o texto que fez sobre os últimos acontecimentos da minha vida.

2 comentários:

  1. "Ps para a autora do texto: Confesso que demorei um pouco para digerir o texto que fez sobre os últimos acontecimentos da minha vida"

    Eu sou a autora do texto e venho comentar o PS.
    Após aquele jogo do bicho, onde contamos quem era cobra, viado ou qualquer animal e no fim eu sempre te surpreendo com os resultados, gostaria de dizer que um dia te mato com meu pensamento lateral.

    Acho que escrever esse texto naquele dia que o nome dele foi gerado, não sairia tão bom como ficou agora. Desculpa pelos tantos detalhes que foram colocados, pela mistura das personagens e pelos detalhes fictícios terem sidos reais, Trakinas é um bom exemplo.

    Talvez eu te conheça mais do que você pensa, ou talvez eu conheça mais dessa historia do que você imagina. Não sei. Juro que não sei...


    Mas escancarar os fatos aqui, nesse texto doeu. E não foi minha intenção. Mil desculpas por isso, e não por ter escrito o texto. Não peço desculpas por isso. Porque se doeu, foi verdadeiro. E você concorda com isso...

    Com carinho, da sua Marshmallow <3

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    1. Como foi mesmo o ultimo insight que voce teve?

      "Se eu tivesse escrito esta história há um tempo atrás ela não seria tão nossa quanto agora" Algo assim, certo?

      Eu realmente me doou quando leio, não estou com raiva, como você mesma diz: existe o lado A da história, o lado B e o lado de quem está de fora e esse foi o seu, certo?
      E antes de terminar meu comentário li uma frase que se encaixa bem: "tive excessos de amores errados. - Clarissa Corrêa"
      De qualquer forma toda má poesia é feita de sentimentos verdadeiros, Oscar Wilde disse algo parecido, me foge a memória.
      Ai de toda literatura se todos os amores dessem certo e ai de mim que não teria um blog que é minha segunda vida. Não sei se estou fugindo do assunto, mas é que as vezes parece impossivel separar minha literatura da Pandora.
      E se tem uma coisa que eu aprendi ao longo destes anos, foi respeita-la, demorou tempo, brigas, outras vidas na minha pra que eu pudesse amadurecer minha literatura e o que eu sentia por ela.
      Então, para a segunda pessoa do texto, eu desejo que você viva, saia, encontre amores e outras brigas, bebidas e cannabis. Só vivendo para aprender a respeitar o viver do outro e o que faltou para ela é o que hoje sobra em mim.

      Um recado para você e para qualquer pessoa: somos primeiramente vítimas de nós mesmos.
      A minha verdade doeu em você tanto quanto o peso das palavras não ditas doeram em mim.

      Eita, Marsh, meu recado é dedicado a você e seu pensamento lateral que um dia pode me matar, a Pandora que se eternizou musa do meu blog, mesmo que meu amor tenha se transformado em respeito e um querer bem, e para quem não se deve ser pronunciada (que obviamente não lerá meu blog), não se condena alguém da vida real quando o culpado só existiu na sua imaginação.

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