sábado, 28 de janeiro de 2012

Evasão literária

   (imagem retirada do weheartit)

   Caneta e papel. O ritual antigo talvez ajude mais que esta tela em branco. Não sei por que aquele cursor que pisca sem parar me lembra o tique-taque do relógio. Talvez eu saiba, posso sentir agora. O mar branco fala comigo. Tique-taque. É o seu tempo correndo. Tique-taque.
   E agora nada. Nenhum sinal das palavras. Me disseram que o prazo mínimo para se registrar um desaparecimento é de 48 horas. Já fazem meses. Minha eterna mania de tomar banho ouvindo música não inspira um poema novo sobre dona Maria e o pudim a seu neto. Sento no sofá. Leio o jornal. Na maioria das vezes não reparo que é de ontem.
   4h da tarde. Sagrado café. Quando dei por mim mais um punhado delas havia fugido. Pularam o muro. Entraram debaixo no sofá e recusam-se a sair. Escorreram pelo ralo. Minhas preciosas não querem pertencer-me.
   As palavras estão em greve. Não desejam servir a uma literatura egocêntrica. Não querem compor meu hino de solidão. Então, eu faço um apelo:
   -Quando minhas pretensões literárias lhes parecer instigante o suficiente para sufocar os olhos e cegar a garganta, por favor, voltem, eu deixo a porta aberta, a janela destrancada e o celular ligado e se nestas andanças por acaso encontrarem a musa de suas existências diga-lhes que o insuportável não é o desapego a me rodear, com ele aprendi a ser solo com maestria, é a memória que anda muito bem das pernas. Obrigada!

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